Continuando na rota de um Portugal quase desconhecido – Benfeita e Fraga da Pena
Para os amantes do cinema português, quem se lembra do filme
“Aquele Querido Mês de Agosto”, de 2008, realizado por Miguel Gomes e vencedor do
prémio de melhor filme no XI Festival Internacional de Cinema Independente de
Buenos Aires, a juntar ao premio de melhor filme no Festival Valdivia, prémio
da crítica no Festival de São Paulo (onde passou com legendas) e prémio
especial do júri no Festival de Guadalajara?
Para quem não se lembra deste filme trata-se de um misto de documentário
e ficção, onde é retratada a vida das aldeias em agosto, quando os emigrantes
regressam dando assim início à época das festas e dos bailes. Este filme,
rodado na Benfeita, foi protagonizado por populares, actores amadores e pela
própria equipa de produção.
Benfeita?.... A
aldeia da Benfeita fica no concelho de Arganil, está inserida junto à Área de
Paisagem Protegida da Serra do Açor e é uma das 24 que fazem parte da Rede das
Aldeias do Xisto. De acordo com o site das Aldeias de Xisto, esta é única
aldeia no Mundo que exalta a paz com uma torre, um sino e um relógio. Como
curiosidade, a sua torre sineira continua a celebrar o fim da II Guerra Mundial
com 1620 badaladas todos os dias 7 de maio.
Trata-se de um pequeno lugarejo simples, bem tratado e pacato
onde impera o casario antigo e branco bastante bem cuidado e onde é muito fácil
ouvir o barulho da água por todo o lado pois a aldeia é atravessada por duas
ribeiras, a do Carcavão e a da Mata. É ainda obrigatório subir à Fonte das
Moscas e apreciar dali as ruelas bem cuidadas e os seus passadiços
característicos.
Por aqui vale a pena conhecer, para além da Igreja Matriz
(Séc. XVIII), a Capela da Nossa Senhora da Assunção, a Capela de Santa Rita e a
Capela do Senhor dos Passos. Mais acima, numa colina próxima, encontra-se a
Capela de S. Bartolomeu, a da Senhora da Guia e a da Senhora das Necessidades. Merece
ainda uma visita a Torre da Paz, a Ponte Fundeira, o passadiço e a Casa Simões
Dias, poeta e professor nascido nesta terra, os vários painéis de azulejos
espalhados pela aldeia, o Moinho do Figueiral e os lagares de azeite.
De resto a Benfeita é uma aldeia como tantas outras, quase
deserta na maior parte do ano, retrato perfeito de um lugar onde ficaram os
velhos à espera que os novos regressem um dia. Sitio onde o tempo passa
devagar, e os poucos que restaram, se vão reunindo na praça e em esplanadas ou
simplesmente se deixam ficar no quintal, a desfrutar do sol do fim de verão enquanto
alguns gatos brincam com os insetos que por ali se atravessam, mal adivinhando
a sua sorte.
E no entanto, neste dia, a Benfeita já não era uma aldeia
como as outras. O espaço deixado pelos nossos, que partem deixando tantas
saudades, tinha sido ocupado por um grande grupo de hippies, vindos de vários pontos
do norte da europa, trazendo consigo os seus bebés, uma forma de vida descontraída,
sempre em comunhão com a natureza. Neste dia, a Benfeita estava em festa e
Agosto já tinha terminado há muito. Por toda a aldeia, vindo do bar, ouviam-se música
e gargalhadas. O parque infantil, repleto de crianças, fazia esquecer o pesado silêncio
a que os habitantes desta e de tantas aldeias já se habituaram. Quem vem do
norte da europa parece chegar à Benfeita e descobrir um paraíso, de
tranquilidade, gente acolhedora, bom clima e ambiente seguro. Até podia ser um
sonho de estranho que foi, no entanto era real. O grupo estava mesmo lá, a
cantar, sentados pelas ruelas, em paz, fazendo parte de um cenário quase irreal
de final de verão, deixando antever que este inverno pode não ser tão frio,
assim se juntem os tão diferentes povos da europa, nesta aldeia que representa
a paz.
Mas se os hippies chegam à Benfeita e não conseguimos
entender porque, tudo começa a fazer sentido quando chegamos à Fraga da Pena.
Inserida em plena Paisagem Protegida da Serra do Açor, por
aqui a Ribeira de Degrainhos precipita-se numa queda de água com uma altura de
19 metros, dando origem a um pequeno lago onde é possível tomar banho, mas só
os mais corajosos, porque como o sol não entra tão fundo, e a agua é
verdadeiramente gelada. Lugar obrigatório de visita, sendo ainda excelente para
fazer um pic-nic ou um lanche em família, daqueles à moda antiga e que sabe bem
nem que seja uma vez por ano.
Por último, a Mata da Margaraça. Daqui saiu madeira para o
retábulo da Igreja da Sé Nova (Coimbra) e para a construção de uma antiga ponte
sobre o Mondego, em Coimbra, no início do séc. XVIII forneceu madeira para a
construção do Convento de Santo António. Esta Mata corresponde a uma das mais
notáveis florestas caducifólias existentes em Portugal. Por aqui abundam carvalhos,
castanheiros, cerejeiras, ulmeiros, azevinhos, freixos, azereiros. Ainda é possível
encontrar arbustos variados e flores inesperadas como algumas espécies de orquídeas,
verdadeiras raridades.
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