Welcome aboard - A primeira vez
Quando fui trabalhar para a TAP, em 1990, só conhecia os
aviões por fora, dos passeios de domingo, quando era mesmo muito pequenina. Nunca
tinha visto um avião por dentro a não ser em filme por isso, sempre que vendia
um lugar, imaginava-o o melhor possível, algures entre a realidade dos papéis
onde tínhamos desenhados planos de cabine e a imaginação cruzada com os filmes
que passavam na TV. Nessa altura viajar ainda era um luxo e o mundo da aviação era
muito simples, dividia-se entre companhias regulares e voos charters e umas três
ou quatro tarifas para o passageiro escolher. O sistema informático de reservas
estava a dar os primeiros passos e era considerado um luxo.
E foi assim, que há 22 anos fiz a minha primeira viagem de
avião com destino a Londres. Levava na bagagem meia dúzia de coisas de que nem
me lembro e na cabine duas amigas e colegas de trabalho. Entramos juntas para a
TAP por isso estávamos juntas no mesmo barco, ou melhor, no mesmo avião.
Chegar a Londres nos anos 90 foi quase um choque cultural. Saindo
de Lisboa rumo ao desconhecido para aterrar numa cidade multirracial,
multicultural e onde já se dormia muito pouco. Nesse aspeto Londres pouco mudou,
Lisboa é que se tem vindo a modificar, por isso quem viaja hoje em dia já não
sente esta diferença de forma tão intensa.
Para quem ia de Portugal era estranho chegar a uma cidade
tão grande e onde era tão difícil encontrar ingleses e tão fácil encontrar
indianos, ou chineses, ou povos de tantas nacionalidades diferentes, numa amálgama
de cores e línguas que davam e continuam a dar um toque tão característico a
Londres.
Também foi estranho encontrar carroceis no meio da cidade, sem
ser em feiras, mercados onde o artesanato era tão valorizado, ou lojas, verdadeiros
paraísos para as compras como o Harrods ou Marks and Spencer.
Ruas e ruas cheias de gente que ignoravam o frio para entrar
em lojas sobreaquecidas onde rapidamente tínhamos de tirar o máximo de roupa possível
para não colapsar com as diferenças térmicas. Também era diferente o cheirinho
a Natal que começava a brilhar logo a seguir ao verão, algures entre o final de
setembro e o início de outubro.
Uma rede de metro, muito vasta tendo em conta o que era o
metro em Lisboa nessa altura e as pessoas que largavam tudo para o chão, sem preocupações
com o meio ambiente.
De resto, a tradição mantem-se e Londres era o que continua
a ser hoje em dia. Ninguém passa por aqui sem passear a pé em Oxford Street
enquanto aprecia as montras e se aproveita para fazer algumas compras; sem ir a
Piccadilly Circus ver os painéis publicitários de néon; passar por Trafalgar
Square e visitar a National Gallery caso goste de pintura, assistir à mudança
da guarda no exterior do Palácio de Buckingham e com muita sorte ter um
vislumbre da família real; a Abadia de Westminster; o Parlamento; o Big Bem; o
rio Tâmisa e o Covent Garden onde ainda existe um mercado coberto com recordações
a preços mais acessíveis.
O que esta cidade tem de diferente para a época e que merece
a visita são as docas, que tal como em Lisboa foram alvo de um processo de
recuperação, sendo agora um sítio calmo mas muito bonito para se passear
tranquilamente.
De volta ao rebuliço, é obrigatório apreciar a liberdade de
expressão. Por aqui as pessoas sentem-se livres para comunicarem através do seu
corpo, da sua imagem, por isso não se admire com as cores dos cabelos, os
penteados ou as roupas. A pressão social neste aspeto não é tão forte como por
cá por isso primeiro estranha-se a diferença e depois entranha-se o conceito de
liberdade.
Ninguém vem embora sem visitar alguns museus como o Museu
Britânico, que possui um dos mais importantes acervos do planeta sobre história
e cultura mundial; o Tate Modern, um museu de arte moderna internacional e onde
as exposições são gratuitas; A National Gallery, em Trafalgar Square, com obras
dos mais importantes pintores de sempre; o Science Museum, ideal para levar os
mais novos e por fim, claro o Madame Tussauds, museu de cera mundialmente
conhecido.
Se em Londres a qualidade do hotel não é o mais importante pois
de uma forma geral os hotéis são caros e só servem mesmo para dormir (no final
do dia estamos tão cansados que só valorizamos o facto de ser aquecido, ter
como é evidente casa de banho no quarto e uma chaleira na comoda com chávenas e
pacotes de chá para ajudar a dormir ainda melhor), por outro lado é essencial
que seja central e próximo de uma estação de metro para evitar mais deslocações
a pé.
Essencial para quem vai a Londres é assistir a um musical.
Antes de iniciar a viagem, mesmo que nem goste muito, escolha uma peça para
assistir, algumas estão em cena às anos e anos, e continuam por lá. De preferência
leve os bilhetes daqui para não ter de passar mais tempo em filas nem sofrer o
desgosto de ver que a sala entretanto ficou esgotada.
Descansar? Espere para sentar no avião de regresso a casa. Enquanto
está por Londres aproveite ao máximo
pois nunca há tempo que chegue para conhecer bem esta cidade tão colorida.
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