Os rostos das mulheres de África



Nunca tinha pensado muito a fundo sobre este tema no entanto foi a ver fotos que foi tirando em algumas viagens a África que comecei a pensar sobre a importância das mulheres neste continente.

Silenciosas, muitas vezes quase submissas, foi-lhes confiado um papel fundamental na sociedade: boa esposa, boa filha, boa mãe, boa vizinha e boa cidadã. Para elas está reservada a parte mais difícil pois é sua obrigação cuidar dos irmãos, dos filhos, procurar alimentos, transportar agua, encontrar lenha, cuidar das roupas, poucas e quando existem e cuidar da limpeza de casa.


 Aparentemente ainda mantendo um lugar secundário, aceitam aquela que sabem ser a sua obrigação: zelar pela família, tratar dos velhos, olhar pelas crianças e sobreviver, a custe o que custar.

Assim os seus sonhos ficam esquecidos, à força da urgência das necessidades imediatas, deixando de pensar em algo mais que não seja a sobrevivência da família…e assim os seus sonhos limitam-se ao que noutras sociedades é tão primário que deixou de ser valorizado: a fartura de lenha para manter o fogo, de água para sobreviver e de fubá para cozinhar.


Em África é a mulher que enterra os seus filhos que morrem de fome ou com falta de cuidados básicos de saúde, que se despede de maridos que partem para longe e que deitam à terra os corpos mirrados dos seus pais que também eles partem cedo demais.



Sobretudo nas comunidades rurais a mulher tem um papel fulcral. Desde a mais tenra idade aprendem com as mães a ser o pilar da vida familiar e doméstica mas apesar disso a sua existência é quase invisível no plano social, parecendo ter uma voz pouco ativa nos processos decisivos da vida comunitária e estando as suas funções predominantemente associadas à maternidade e aos papéis de mãe e esposa.


A ida à escola fica muitas vezes para segundo plano pois é mais urgente o apoio à comunidade, no entanto, foi em Moçambique, numa escola construída algures com muita boa vontade, que vi o melhor caderno escolar que alguma vez passou pelas minhas mãos. E esse caderno era de uma menina, aluna, ainda com a esperança a brincar através de uns grandes olhos negros. Mais uma vez nunca tinha pensado muito a fundo sobre esta questão, habituada a ver cadernos mais ou menos desorganizados dos típicos alunos das escolas na Europa. No entanto este caderno era especial, pousado sobre a mesa da escola, num local ermo e esquecido, escrito a duas cores (preto e vermelho) era o caderno escolar mais organizado e bem tratado que vi na minha vida. Estimado como se faz com qualquer bem precioso, esse caderno, dessa aluna, uma miúda de olhar sonhador em África, mostrou-me que existe uma vontade de mudar, de aprender para poder ir mais além.

Lembro-me muitas vezes desse caderno, daquela escola e daqueles meninos. Gostava de daqui a uns anos poder começar este texto a dizer o papel da mulher em África mudou e com isso o mundo ficou melhor.



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