Vai aonde te leva o coração





“E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não te metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te e vai para onde ele te levar”- Susana Tamarro, do livro, Vai aonde te leva o coração.


 
O meu desejo de partir pelo mundo é imenso, pena tenho eu de ter tão pouca vida e um planeta tão grande para conhecer.


Gostava de partir, devagarinho, quase sem darem por mim, sem darem pela minha ausência. E lá ia eu, pé ante pé, ao encontro da minha sina, do meu futuro, traçado lá no passado, num olhar e num sonho que herdei da minha avó.


Amava ir, sem nada me prender, ser livre para poder simplesmente viver. Partir sem destino e sem preocupações, só para poder conhecer, abraçar o mundo, fazer parte do mundo.


É que nesta vidinha que construímos, confortável e cheia de tolices materiais, não vivemos, ofuscamo-nos com coisas e abafamos os sentimentos. Fazemos de conta pois não saberemos viver sem o que construímos e nem nos atrevemos a por em causa tudo o que fizemos. Mas viver ou viajar é isso mesmo, por em causa, sentir a aventura, o prazer da descoberta. Não façam só viagenzinhas, arrisquem, vivam, descubram e depois façam o favor de partilhar, de dar uma oportunidade a todos de poderem sonhar.


Semear sementes de aventura é tão importante como viver essa aventura, atrevam-se para que nunca se arrependam de ter vivido só pela metade.  


É que hoje é dos daqueles dias funestos que acontecem a todos os que insistem em escrever, aquele dia em que se coloca a questão – vou escrever sobre o quê? Sobre que destino? Qual vai ser o tema de hoje? Tenho vários temas em arquivo, alguns textos meio acabados mas …Sabem…hoje o tema é livre, cada um deve ir aonde lhe leva o coração, abrir os braços e viver.


Lembro-me muitas vezes da minha avó. Sabem que tive uma avó que adorava ter tido a oportunidade de viajar mas como tal não era aceite ia somente de férias, todos os anos, sozinha, uma semana, durante as festas religiosas na Nazaré. Nunca abdicou de ser quem era, dentro das limitações da vida do campo, numa época em que as mulheres nasciam para ficar em casa e cuidar dos filhos. Essa minha avó adorava ler mas como na aldeia, nos idos tempos antigos, não existiam livros e muito menos revistas ou jornais, a minha avó devorava a Bíblia, único livro que uma mulher séria tinha acesso.


A minha avó, de grandes olhos castanhos, sonhadores, sonhava em conhecer o mundo mas não teve a sorte de nascer num meio onde tal fosse possível. Abriu os braços à sua maneira e nunca deixou de sonhar, de ouvir o seu coração e de seguir a sua consciência. A minha avó já não está cá, seria impossível, teria cento e tal anos se ainda fosse viva. No entanto vive em cada um de nós, daqueles que herdamos os seus grandes olhos castanhos, calmos e sonhadores.


Depois de ela morrer, durante muitos anos tive sempre o mesmo sonho, em que ela me falava em pensamentos e me queria dizer algo importante. Hoje, finalmente, acho que entendi o que ela me queria dizer: vai aonde te leva o coração….


Este é o melhor destino que podem escolher, não importa onde fica nem quanto gastam ou com quem vão, o que importa é que sejam felizes.     



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