Madragoa, Vinhos e Petiscos
A Madragoa parecia estar a morrer, aos poucos, como os velhos
que por lá habitavam, os últimos sobreviventes. Ia-se apagando, deixando-se
ficar. E tal como com os velhos, muita gente passava mas ninguém olhava e muito
menos estendia a mão.
Tudo estava velho na Madragoa, os prédios degradados (os
jovens não querem casas pequenas não é?), as lojas que fechavam quando os seus
donos se reformavam ou faleciam, lojas tristes e a anunciar uma morte eminente,
e as ruas sujas com os restos de mais uma noite alucinante pois os tais jovens,
os que moravam longe, só procuravam a Madragoa para beberem uns copos noite
dentro.
Nessa altura, a loja mais moderna da zona era a farmácia…percebe-se
bem porquê…
Então, de há meia dúzia de anos para cá tudo começa a mudar,
uma nova energia parece chegar e começa a acontecer tudo ao mesmo tempo, aos poucos
os prédios começam a ser recuperados, locais onde agora convivem velhinhos,
jovens a começar novas vidas e turistas que escolhem casas em vez de hotéis,
procurando viver a experiencia até ao limite de sentirem menos estrangeiros por
cá.
As lojas que estavam fechadas, abandonadas e decrépitas ganham
agora novas vidas, novas dinâmicas. Enchem-se as ruas de pequenos restaurantes,
que respeitam as tradições e que abraçam turistas e nacionais. Os velhos ainda
lá estão, não morreram mas agora cruzam-se na rua com gente que chega de todo o
mundo criando um ambiente um pouco boémio mas saudável, de respeito pelas
tradições e onde já não se deixa fugir as novas oportunidades.
E assim chegamos ao Madragoa, Vinhos e Petiscos acabado de
inaugurar na Rua da Esperança. Para os que são da minha geração e se lembram do
Berro, posso dizer que o espaço é o mesmo mas o interior ganhou uma nova vida.
Quando lá forem não vão conseguir ver onde estava o velho bar mas não faz mal. O
ambiente, acolhedor e familiar, fará com que esqueçam rapidamente o “menina
estás à janela” cantado milhares de vezes a plenos pulmões. Este espaço foi desenhado
a pensar no convívio, no encontro entre amigos, é mais do que um restaurante é
um local onde se pode começar por petiscar e beber um copo de vinho e depois
não apetece levantar e sair, ficar para jantar ganha então vida na nossa mente…
O Madragoa, Vinhos e Petiscos nasceu para ser a continuação
do Madragoa Café, na mesma rua, um pouco mais abaixo. De acordo com Maria
Cristina Pereira, proprietária dos dois espaços “Seguindo o caminho iniciado há
quase sete anos no Madragoa Café, abrimos agora o nosso segundo espaço,
igualmente dedicado aos Vinhos e Gastronomia Nacional. Com o atendimento e
ambiente já conhecido, este novo espaço terá diariamente duas opções de fundo e
Petiscos variados, promovendo a partilha e a natural convivialidade que
caracteriza a vivência da Dieta Mediterrânica. A partir das 17h e até às 24h, exceto
à terça-feira”.
Por aqui dá-se vida à boa comida tradicional portuguesa, criando
um “restaurante mediterrâneo”, onde é dada a garantia de que todos os alimentos
são muitos frescos e todos os pratos são cozinhados na hora, prato a prato. O
que se pensa que se perde em tempo de espera ganha-se numa experiencia gastronómica
de qualidade. O tempo de espera é excelente para o convívio entre amigos,
enquanto se beberica um copo de vinho e se degusta por exemplo uma tabua de
queijos, a experiencia de uma boa refeição é largamente compensadora,
prolongando o momento, sem nunca se sentir que estamos a mais e que estão
cliente à espera da nossa mesa para se sentarem. Aqui não há pressas, os
clientes são sempre clientes especiais.
Também a carta de vinhos é escolhida cuidadosamente por uma enóloga,
onde se procura divulgar os novos talentos, os vinhos de novos produtores, que
começam a surgir um pouco por todo o país. Merecem todo o apoio pois estão a
lançar-se em novos caminhos, cheios de esperança de poder trazer uma nova dinâmica
à mesa de quem aprecia um vinho de qualidade.
Vale a pena regressar
a Lisboa, ver que se enche de vida, que os turistas trazem receita mas deixam
mais do que isso, deixam no ar uma nova vivacidade de que tanto precisávamos.
Vale a pena descer à Madragoa, descontraído, de máquina fotográfica ao pescoço e
apreciar a vida que começa a renascer. Parar ao final do dia e desfrutar de um
copo de vinho e de uns petiscos, saborear o momento e deixar-se levar, fechar
os olhos e descontrair. Sem dúvida, os pequenos prazeres são o melhor que a
vida têm….
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