Feira dos Frutos regressa ao parque das Caldas da Rainha em Agosto
Fui morar para as Caldas da Rainha numa altura da minha vida
em que tinha a cara cheia de borbulhas e a cabeça carregada de incertezas, tudo
típico de uma adolescente normal dos anos 80.
Vinha do reboliço da grande cidade pelo que o choque inicial
foi brutal. Em Lisboa o pão era uma carcaça mas nas Caldas era um pape seco e
os ténis da capital mudavam para as sapatilhas da cidade pequena. O início não
foi fácil, e não foi só com aos nomes das coisas, no entanto, no fim do
primeiro ano comecei a perceber a beleza de morar fora de Lisboa e a segurança
de viver num meio pequeno onde toda a gente se conhecia e onde, sem dúvida, estávamos
mais seguros. A minha adolescência nas Caldas foi dos períodos mais felizes da
minha vida e viria a mudar completamente a minha forma de ver o mundo.
Nessa altura a vida nas Caldas da Rainha corria mesmo muito
devagar, as semanas arrastavam-se e os jovens ansiavam por um pouco de
animação. O verão com a chegada dos emigrantes era muito desejado, a cidade
enchia-se de vida, de outras cores e de outros sons, trazendo uma alegria que
não se vivia no resto do ano.
Recordo-me com um sorriso nos lábios dos longos dias de
verão passados na Foz do Arelho, dos pic-nics no pinhal, das caminhadas para o
centro da cidade e para a biblioteca municipal, localizada na altura nos edifícios
do Parque e claro, dos finais de tarde de verão nas feiras da cerâmica e dos
frutos.
Durante todo o ano ansiávamos pela realização destas duas
feiras, que decorriam nos caminhos do Parque D. Carlos I, e ainda hoje, se
fechar os olhos consigo ver as bancas carregadas de produtos, os sorrisos ao
encontrar os amigos, as corridas pelo parque e a alegria da festa. Toda a gente
ia à feira pelo menos uma vez, se não fosse ficava mal visto.
Tanto quanto me parece esta recordação será transversal pelo
menos às pessoas da minha geração que cresceram nas Caldas da Rainha.
E eis que descubro que a Feira Nacional de Hortofruticultura
vai decorrer no Parque D. Carlos I tendo as frutas nacionais como ponto de
partida e prometendo um programa gastronómico e cultural incontornável para o
final de Agosto.
O seu nome é inspirado no passado e a “Frutos – Feira
Nacional de Hortofruticultura das Caldas da Rainha” (Frutos 2016), promovida
pela Câmara Municipal, regressa ao Parque D. Carlos I entre 19 e 28 de Agosto.
O evento, que foi durante os anos 70, 80 e 90 um dos mais importantes da área a
nível nacional, será uma representativa montra do que melhor se faz no sector
da hortofruticultra em Portugal e terá um conjunto de atividades a decorrer
simultaneamente, como showcookings de chefs conceituados, exposições,
workshops, visitas acompanhadas a pomares, concertos, entre outras. O prémio
“Sabor & Qualidade Frutos” será a grande novidade desta edição.
“A 28ª edição da Feira dos Frutos será o evento central
deste verão no Oeste, a nível gastronómico, cultural e, acima de tudo,
frutícola, num evento que tem tradição e história e que envolve toda a cidade.
A Frutos 2016 pretende destacar o trabalho que está a ser desenvolvido na
hortofruticultura nacional em matéria de tecnologia, modernização e
rentabilização das fileiras mais importantes do sector primário”, salienta
Fernando Tinta Ferreira, Presidente da Câmara das Caldas da Rainha, que na
altura estudava no mesmo liceu onde eu estudei.
Mas a feira atualizou-se e na edição de 2016 estarão
presentes mais de 120 expositores ligados à produção, maquinaria, indústria,
serviços, artesanato, cerâmica, vinhos do Oeste, produtos de fumeiro e
charcutaria tradicional portuguesa, restaurantes e bares. Haverá ainda um
consultório técnico, onde os produtores se poderão aconselhar com profissionais
da área sobre várias questões do sector. As sessões temáticas relativas à
vertente técnica também fazem parte do programa, onde temas como “Portugal Sou
Eu e Rotulagem”, “Produtos DOP”, “Inspecção de pulverizadores”, entre outros,
serão debatidos. A feira é um projecto em constante renovação, que no passado
se mostrou muito eficaz no que diz respeito aos resultados alcançados em
matéria de criação de riqueza, postos de trabalho, investigação e
desenvolvimento e que se pretende agora retomar com maior dinamismo.
A gastronomia será uma das fortes apostas do evento, com a
presença de chefs nacionais conceituados que vão trabalhar os produtos em
destaque na Frutos 2016 numa abordagem inovadora. Os chefs Francisco Siopa e
Miguel Laffan serão dois dos protagonistas de alguns showcookings que irão
ocorrer durante o evento. Diariamente também a Escola de Hotelaria e Turismo do
Oeste será responsável por demonstrações das suas diversas áreas de
gastronomia.
Do cartaz de animação cultural, que ocorre paralelamente,
fazem parte nomes como Pedro Abrunhosa, Ana Moura, The Black Mamba, HMB e
António Zambujo.
Ao longo do evento, o Município das Caldas e a Comissão
Consultiva da Feira dos Frutos 2016, em parceria com a Associação Nacional de
Produtores de Pêra Rocha e a Associação dos Produtores de Maçã de Alcobaça,
criaram o prémio Sabor & Qualidade Frutos, que apresenta duas categorias:
Produto Sabor & Qualidade e Produto Inovação. O primeiro premeia o produto
agro-alimentar em fresco ou transformado que esteja disponível no mercado que
se distinga pelas suas características sensoriais e de qualidade e que promova
hábitos alimentares saudáveis ou a sustentabilidade na cadeia de valor. O
segundo tem como objectivo premiar projectos de investigação agro-alimentar que
visem aumentar a inovação e o valor de produtos hortofrutícolas. As
candidaturas podem ser apresentadas por todas as pessoas individuais e
colectivas e serão analisadas por um júri designado pela Comissão Consultiva da
Feira dos Frutos para cada categoria.
No âmbito da Feira, nos dias 23 e 25 de Agosto, entre as 10h
e as 13h, haverá ainda visitas organizadas a pomares de maçã e pêra
certificados, com o objectivo de demonstrar as tecnologias de produção e
evidenciar os cuidados a ter na colheita, em pomares sujeitos a referenciais de
qualidade que garantem a qualidade e segurança alimentar do consumidor. Estas
visitas destinam-se a todos os interessados, técnicos e público em geral. Esta
actividade tem um limite de 25 pessoas e a inscrição um valor de 2€ (a ser
feita até ao dia 21 de Agosto).
Os bilhetes para a Feira podem ser adquiridos a desde o dia
1 de Julho, sendo que neste mês o passe para os 10 dias custará 8 euros e,
depois dessa data, 10. O valor dos bilhetes diários varia entre os 2 e 3 euros.
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