As salinas de Rio Maior



 Prefácio


Quem se lembra do conto tradicional, narrado por Teófilo Braga, intitulado o Sal e a Água? Este conto fez parte da minha infância e explica às crianças a importância do sal e daquelas que parecem ser pequenas coisas sem importância, na vida diária.


Para quem não se lembra bem desta história antiga, havia um rei que tinha três filhas e que perguntou a cada uma delas qual era mais sua amiga. A mais velha respondeu: — Quero mais a meu pai, do que à luz do sol. Quando falou com a do meio, ela respondeu: — Gosto mais de meu pai do que de mim mesma. Mas quando chega a altura da mais nova, a resposta é surpreendentemente simples:— Quero-lhe tanto como a comida quer o sal.


Só que a pequena princesa não foi bem entendida, o rei achou que a filha mais nova o não amava tanto como as outras e expulsou-a do palácio. A princesa, triste, correu mundo até chegar ao palácio de um rei, onde se ofereceu para ser cozinheira. Um dia foi para a mesa um pastel muito bem feito, só que o rei ao parti-lo encontrou lá dentro um anel muito pequeno mas de grande valor. Perguntou a todas as damas da corte de quem era aquele anel, todas o experimentaram mas o anel só serviu nos finos dedos da cozinheira. O príncipe ao ver tudo isto interessou-se por ela, pensando que pertencia a famílias nobres.


Começou a espreita-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de princesa. Foi chamar o rei, seu pai, e ambos ficaram surpreendidos com a situação. Mesmo assim, o rei deu licença ao filho para casar com a cozinheira. A heroína da nossa história aceitou o pedido com a condição de que seria ela a cozinhar o jantar do dia da boda. Claro que para a festa foi convidado o rei, seu pai. A princesa cozinhou o jantar mas no comer do seu pai não colocou nem uma pitadinha de sal. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que nada comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele:— É porque a comida não tem sal.


O pai do noivo fingiu-se zangado e mandou chamar a cozinheira. Apareceu então a menina vestida de princesa. Assim que o pai a viu entendeu de imediato a sua culpa por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



A História


As Salinas Naturais de Rio Maior, também conhecidas como Salinas da Fonte da Bica, estão situadas no sopé da Serra dos Candeeiros, a três quilómetros de Rio Maior, na região centro de Portugal.


Estão dívidas em pequenos compartimentos ou talhos, com dimensão média entre 35 e 50 m2, feitos de cimento ou de pedra, com pouca profundidade e para onde, por regueiras, é conduzida a água salgada que se tira de um poço. Os esgoteiros, as eiras e as casas de madeira para armazenagem do sal, completam o conjunto.


Uma mina de sal-gema, bastante extensa e profunda é atravessada por uma corrente subterrânea que alimenta um poço, o que faz com que a água seja salgada, sete vezes mais salgada que a do mar. Da sua exposição ao sol e ao vento e da evaporação da água obtêm-se o sal, depositado no fundo dos talhos, que depois é colocado em montes, em forma de pirâmides, para secar até ser recolhido. O processo é semelhante ao usado nas salinas da beira-mar.


A origem das Salinas perde-se no tempo. Na entrada, a placa de madeira apresenta orgulhosamente a data de 1177, altura em que D. Afonso Henriques lutava pelo reconhecimento do novo Portugal, o que viria a acontecer em 1179.


No passado, o sal era uma substância muito importante no comércio entre os povos, usada frequentemente como moeda de troca, sendo também utilizado como pagamento de jornas. Além de ser apreciado como condimento era usado também como modo essencial de conservação dos alimentos.


Classificadas como Imóvel de Interesse Público e rodeadas de árvores e terras de cultivo, as salinas estão englobadas numa pequena aldeia de casas de madeira, com lojas de artesanato e produtos locais, um posto de informação e divulgação e instalações sanitárias. Contactando a Cooperativa dos Produtores de Sal de Rio Maior é possível efetuar uma visita guiada.


Mais recentemente, em 1979, foi constituída a Cooperativa Agrícola dos Produtores de Sal de Rio Maior, a qual tem como objetivo comercializar o sal dos cooperantes e promover ações de apoio aos mesmos, na transformação de salmoura e seu aproveitamento.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



Produtos comercializados


Tradicionalmente o sal era guardado nas casas típicas das salinas. Atualmente a Cooperativa recolhe este produto para um armazém onde se podem ver as típicas fechaduras de madeira.


Estão disponíveis para venda diversos produtos de sal como o queijo de sal, a flor de sal e o sal e temperos, comercializados a preço justo nas pequenas casas de madeira.


Após o processo natural de evaporação da água e posterior elaboração das pirâmides de sal para secagem, o produto obtido é levado em carro-demão ou às costas, em sacas, até à máquina que o transporta para a cooperativa. Aí chegado, é pesado, armazenado e, mais tarde, embalado. Estes produtos são comercializados para os mais diversos fins: consumidor final, indústrias diversas, restauração, tratamento de águas, entre outros.


A cooperativa produz cerca de 2000 toneladas de sal de elevada qualidade por ano. O reconhecimento da excelência deste produto abriu portas à exportação para a Alemanha e Áustria, comercializando-se 30% e 10% da produção, respetivamente.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 



 


 


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